terça-feira, 30 de junho de 2009

Entendendo a Matrix (ou A Dissecação do Sistema)

Sr. Anderson é um programador de computadores que trabalha para uma empresa de software e, nas horas vagas, é um hacker (Neo) que burla o sistema. Ou seja, Sr. Anderson tem uma vida dupla. Em seu repetitivo trabalho como programador, ele começa a perceber que há algo de diferente ao seu redor, mas não sabe explicar o que é.
Sr. Anderson é contatado pelo famoso hacker Morfeu, e este é um "fora da lei" muito procurado pelo sistema. Morpheus, na psicologia, representa o id, a energia inconsciente que contém todas as informações necessárias para se despertar do sono (Gurdjieff). Num desses contatos, Morfeu propõe que Neo siga o coelho branco (Alice no País das Maravilhas) que, psicologicamante falando, equivale a “mergulhar dentro de sua própria natureza”, conhecer a raiz de seu instinto; sua sexualidade (Freud). Seguindo seu impulso sexual, a jovem da tatuagem do coelho branco, ele conhece a famaosa hacker Trinity (psique), que também é uma "fora da lei". E ela sabe o que Neo (=One; Um, Escolhido, Ser.) não entende e vem buscando há muito tempo compreender: “O que é a Matrix?”

No dia seguinte, Neo é sutilmente convidado a “entrar na linha” pelo seu chefe, pois seus pequenos atrasos ocasionam perda significativa de lucro à empresa. (Exploração capitalista - mais valia.) O chefe de Neo é a representação do superego; é a censura que a sociedade impõe, que se manifesta na forma de “moral” e deveres por meio da educação cultural. É sabido que através da autoridade hierárquica todo trabalhador se torna dócil e mecânico para servir ao sistema, como afirma Bob Black: “o local onde os [adultos] passam a maior parte do tempo e submetidos ao mais rígido controle é o local de trabalho. Dessa forma, tem-se a impressão que a fonte das maiores coerções diretamente experimentadas pelos adultos comuns não vem do estado mas do patrão que os explora. Seu chefe ou supervisor dá a você mais ordens em uma semana que a polícia em uma década." Então, como Neo vive numa sociedade monetária e precisa de dinheiro para se manter pelo menos com as condições básicas - nosso anti-herói vive num cafofo no subúrbio -, teatralmente acata as ordens do feitor.

Algum tempo depois, Neo é preso por desconhecidos agentes do governo, e estes tentam suborná-lo. Aqui chegamos a uma importante passagem do filme, por se tratar da ética. E nessa passagem constatamos que Neo não é corrupto, pois nega o suborno oferecido pelos agentes... Quantos na mesma situação fariam o mesmo?

Grampeado pelo sistema e prestes a ser demitido, Neo é contatado mais uma vez por Morfeu e este coloca pela primeira vez a questão da “escolha”: continuar vivendo como um escravo ou “ir além do que se percebe”. Nesta parte do filme fica claro que a conversa que ele tem com Trinity é um incentivo a mais para não seguir “o caminho que ele já conhecia”; a vidinha comum e medíocre que leva a lugar nenhum.

Neo é levado a conhecer pessoalmente Morfeu, e este o oferece o livre arbítrio: a pílula azul (continuar dormindo, baixo nível de consciência) ou a pílula vermelha (despertar do sono, conhecer a VERDADE). Neo opita pela pílula vermelha e, numa viagem estonteante dentro de si mesmo, descobre o que há além da vida comum: um super sistema de computador que consiste em interligar a mente de todos os seres humanos adormecidos a um sistema ilusório de vida (sistema financeiro monetário). Neste momento o filme propõe uma discussão quântica da dependência dos cinco sentidos para se perceber a "realidade": "Você já teve um sonho, Neo, em que você estava tão certo de que era real? E se você fosse incapaz de se acordar desse sonho? Como saberia a diferença entre o mundo do sonho e o real?" (Morfeu questionando Neo, Filme Matrix)."

Após algumas outras explicações sobre a Matrix, finalmente Neo conhece a VERDADE, o que ele buscava há muito tempo conhecer. Mas a VERDADE é indigesta, e sempre será para aquele(a)s que estão acostumados com a mentira e a ilusão, pois a Matrix (ou Matriz) é a dependência mental da ilusão. O choque é tão forte que Neo chega a vomitar. Nessa passagem, chegamos a um importante questionamento: se a Matrix é tão poderosa e controladora, como vencê-la? A resposta vem com os treinamentos na nave Nabucondosor: reprogramando a mente e lutando contra crenças e condicionamentos sociais limitadores.

Para aquele(a)s que decidem lutar contra o sistema e os padrões mentais, a tarefa não é fácil, pois o que dificulta a libertação dos sentidos do mundo ilusório é o nosso traidor interno, o arquétipo mitológico Lúcifer, que é representado no filme pelo rebelde Cypher; aquele que se arrependeu de conhecer a VERDADE. E é esse traidor, a força opositora (ignorância) à Iluminação, que o Escolhido terá que vencer.

Matrix é um filme que trata de escolhas. A vida é feita de escolhas. E toda escolha carrega seu percentual de responsabilidades...

“A Matrix é um sistema. Esse sistema é nosso inimigo. Mas, quando estamos dentro dele, o que vemos? Homens de negócio, professores, advogados, marceneiros... As mesmas pessoas que queremos salvar. Mas até conseguirmos, essas pessoas fazem parte deste sistema e isso faz delas nossas inimigas. Você precisa entender que a maior parte dessas pessoas não está pronta para acordar e muitos estão tão inertes, tão dependentes do sistema, que vão lutar para protegê-lo.” (Morfeu orientando Neo, filme Matrix)